A Jerónimo Martins registou lucros de 599 milhões de euros no ano passado, o que representa uma queda de 20,8% comparativamente a 2023, de acordo com o comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Pedro Soares dos Santos, Presidente do Conselho de Administração e Administrador-Delegado, referiu-se a 2024 como um “ano marcado pelos duros efeitos da combinação de uma acentuada queda da inflação alimentar com a subida significativa dos custos”.
O volume de negócios ultrapassou os 30 mil milhões de euros no ano anterior, as vendas consolidadas da empresa aumentaram 9,3% para os 33,5 mil milhões de euros em 2024, de acordo com o antecipado nos resultados preliminares divulgados a 14 de janeiro.
A retalhista sublinhou o “contexto particularmente difícil” agravado pela “falta de dinamismo do consumo”, especialmente na operação da empresa na Polónia.
O EBITDA cresceu 2,9% para os 2,2 mil milhões de euros, com a respetiva margem a cair 41 pontos base, fixando-se em 6,7%. O cash flow registou-se negativo em 62 milhões de euros (345 milhões de euros em 2023). No final do ano, a dívida líquida ascendia aos 3,1 mil milhões de euros (2,1 mil milhões de euros em 2023).
“Em 2024, tudo o que antecipámos nas perspetivas do ano, aquando da publicação dos resultados de 2023, acabou por acontecer. Foram vários os fatores que se conjugaram para gerar um contexto de operação muito difícil para as nossas insígnias: deflação nos cabazes depois de dois anos de fortes aumentos dos preços, elevada inflação de custos, uma forte sensibilidade ao preço por parte dos consumidores, que se mostraram cautelosos e a intensificação da concorrência no mercado de retalho alimentar”, referiu o presidente da Jerónimo Martins na mensagem que consta no relatório de contas.
Resultados em Portugal
Segundo a nota enviada à CMVM, em Portugal, a inflação alimentar foi de 2,4% em 2024, atingindo 3% no quatro trimestre. No mercado de retalho alimentar, os consumidores mantiveram-se muito focados em aproveitar oportunidades de preço e promoções.
A comunicação revela ainda que o canal HoReCa revelou “alguma estagnação” face ao “forte desempenho” dos anos anteriores, impactado principalmente pela “fragilidade do consumo fora do lar”.
As vendas no Pingo Doce cresceram 4,5% para os 5,1 mil milhões de euros, com um LFL [like-for-like, indicador das vendas comparáveis], excluindo combustível, de 4%. O EBITDA cresceu 5,1% para atingir 296 milhões de euros.
“Este bom desempenho de vendas, que contou com o contributo da área de Meal Solutions, e o foco na produtividade e eficiência operacionais permitiram que a margem EBITDA, se mantivesse estável em relação ao ano anterior em 5,8%, apesar do investimento em preço e da acentuada inflação nos custos”, lê-se na comunicação.
No que toca ao Recheio, as vendas atingiram 1,4 mil milhões de euros, 1,9% acima de 2023, tendo ainda registado um LFL de 2,1% e o EBITDA fixou-se nos 69 milhões de euros, 4,6% abaixo do ano anterior.
De acordo com a retalhista, a rede grossista Recheio “alavancou as suas propostas de valor adaptadas a cada tipologia de cliente e, não obstante alguma pressão registada no canal HoReCa, manteve um forte dinamismo e angariou novos clientes em todos os seus segmentos”.
Portugal representou 19,3% nas vendas totais da empresa, com o Pingo Doce e o Recheio a pesarem 15,2% e 4,1%, respetivamente.
Resultados na Polónia
Na Polónia, a empresa avança que a inflação alimentar atingiu, no ano, uma média de 3,3%, tendo caído até março, aumentado em abril com a reintrodução do IVA nos produtos alimentares básicos, e registado, desde então, uma trajetória de subida.
“Em resultado de um comportamento cauteloso por parte dos consumidores, que ao longo de todo o ano se mantiveram fortemente orientados para preço e promoções, as vendas de retalho alimentar a preços constantes registaram uma evolução negativa”, explica a Jerónimo Martins no documento.
Relativamente à marca Biedronka, a empresa refere que manteve “uma dinâmica comercial forte” e garantiu “a sua liderança de preço”. As vendas atingiram os 23,6 mil milhões, mais 9,6% do que em 2023.
O EBITDA diminuiu 1,3% (-6,3% em moeda local). A margem EBITDA, que se cifrou em 7,7% (8,5% em 2023), “foi pressionada pela desalavancagem operacional provocada pela deflação no cabaz, pelos investimentos em preço e pela decisão de aumentar de forma
significativa os salários das equipas operacionais”, explica a Jerónimo Martins.
A Biedronka assume um peso de 70,4% no volume de negócios total da empresa.
No que toca à Hebe, as vendas cresceram atingiram os 583 milhões, 24,3% acima de 2023, com as vendas online a representarem cerca de 20% das vendas totais do ano.